Julho 2018
Não é a transição do dia para a noite. O anoitecer não é uma passagem como quem cruza uma ponte para a outra margem. O anoitecer é o anoitecer, tal com a manhã é a manhã. Não é só a paisagem que muda. Nós também. A luz tem influência nos ciclos circadianos que influenciam (governam?) o nosso organismo, a nossa fisiologia. Não me surpreende, portanto, que os "olhos" com que vemos o anoitecer sejam outros que não aqueles com que olhamos o Sol do meio-dia.
No anoitecer nas serranias respira-se até aos ossos. O ar impregna-nos. Tanto mais hoje, um os primeiros dias quentes do ano. A aragem começa a refrescar. Tudo se aquieta. Nem tudo, percebem-se nas escuridão olhos brilhantes, tal como as luzes das aldeias encravadas nos vales. Distinguem-se vultos que esvoaçam, fugazes. Caçadores nocturnos. Para alguns animais a noite é a manhã de outros.
Na paisagem os vales ficam indistintos, cobertos de neblina. Sobressaem os cumes, como ilhas no mar gasoso e volátil.
(Sobre a albufeira da barragem de Sta. Luzia percebe-se ainda, na linha do horizonte ao centro-esquerda, o planalto central da Serra da Estrela)
Devagar, muito devagar a luz vai morrendo nas serranias.
E ao pedalar a esta hora pelas serranias - agora que penso nisso e que preciso de uma palavra para acabar a frase - fica uma sensação de despojamento.
(Penedos de Fajão na serra do Açôr)
Que lindo!
ResponderEliminarOlá GM. Na segunda fotografia, sob os penedos, os pontinhos luminosos são as luzes trémulas da aldeia de Fajão, as únicas luzes em redor.
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