segunda-feira, 9 de julho de 2018

Anoitece nas serranias

Serra do Açôr
Julho 2018


Não é a transição do dia para a noite. O anoitecer não é uma passagem como quem cruza uma ponte para a outra margem. O anoitecer é o anoitecer, tal com a manhã é a manhã. Não é só a paisagem que muda. Nós também. A luz tem influência nos ciclos circadianos que influenciam (governam?) o nosso organismo, a nossa fisiologia. Não me surpreende, portanto, que os "olhos" com que vemos o anoitecer sejam outros que não aqueles com que olhamos o Sol do meio-dia.

No anoitecer nas serranias respira-se até aos ossos. O ar impregna-nos. Tanto mais hoje, um os primeiros dias quentes do ano. A aragem começa a refrescar. Tudo se aquieta. Nem tudo, percebem-se nas escuridão olhos brilhantes, tal como as luzes das aldeias encravadas nos vales. Distinguem-se vultos que esvoaçam, fugazes. Caçadores nocturnos. Para alguns animais a noite é a manhã de outros.


Na paisagem os vales ficam indistintos, cobertos de neblina. Sobressaem os cumes, como ilhas no mar gasoso e volátil.


(Sobre a albufeira da barragem de Sta. Luzia percebe-se ainda, na linha do horizonte ao centro-esquerda, o planalto central da Serra da Estrela)

Devagar, muito devagar a luz vai morrendo nas serranias.

E ao pedalar a esta hora pelas serranias - agora que penso nisso e que preciso de uma palavra para acabar a frase - fica uma sensação de despojamento.

(Penedos de Fajão na serra do Açôr)




2 comentários:

  1. Respostas
    1. Olá GM. Na segunda fotografia, sob os penedos, os pontinhos luminosos são as luzes trémulas da aldeia de Fajão, as únicas luzes em redor.

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