sábado, 10 de abril de 2021

Mist covered mountains of home

Março 2021

Num fôlego, o ciclista extraordinário estava nos caminhos íngremes, quase descaminhos de tão tapados por giestas, tojos e mimosas. Nestes caminhos de pedaladas rentes ao matagal, o ciclista tenta que a respiração ofegante o não impeça de ouvir os sons da mata, que o esforço não lhe perturbe o discernimento; é que não seria a primeira vez que um javali lhe saltaria ao caminho, saído do mato ali, um metro à frente da roda da bike. Os gemidos dos troncos de mimosas oscilando ao vento confundem-se com ... gemidos e o ciclista extraordinário bem sabe que, tal como nós, os javalis e os veados usam trilhos para cruzarem a serra. E também aprendeu que, se perturbados, não se desviam mas fogem obstinadamente na direcção que levam. Os caminhos da bike que o ciclista extraordinário percorre cruzam-se frequentemente com os caminhos dos animais. O risco é o cruzamento temporal, if you know what I mean.

A pressa de chegar a um cimo. A pressa de ter apenas uns instantes para lavar a vista na neblina que percorria os montes. Em breve teria que voltar para outras paisagens. Mas ali chegado, a meio do vale da ribeira de S. João, o ciclista extraordinário parou e fez um videozinho da neblina que, vale acima, ia cobrindo os montes. The mist covered mountain of home






Na véspera, a pressa, o diabo da pressa, levara o ciclista por caminhos antigos. Caminhos usados pelas gentes das aldeias da serra há muitas décadas atrás. O ciclista tem o olhar treinado para encontrar caminhos nas serranias desde que há mil anos, aí pelos 12 anos, o ciclista extraordinário começou a calcorrear as serranias da Beira, e por lá encontrou pastores e rebanhos e cães com coleiras com espigões de metal (a estratégia para evitar que os lobos os matassem). Há mil anos, seguramente.



O Sol ia já muito baixo. Por entre as nuvens, uns raios amarelos pálidos faziam nascer umas clareiras de luz na floresta que cobre a serra. 



Ao longe, a luz desfocava as lonjuras, fazendo nascer um horizonte quase infinito. O ciclista extraordinário preparava-se para regressar à base. Descia com a confiança do treino. Coordenadas inseridas na memória. Houston, I don't have a problem (so far): passo o tanque, sigo em frente, viro para baixo no caminho que cruza a meia encosta e em 20 minutos estou lá em baixo, over. This is Houton ... slow down ou ainda aterras onde não queres, nada de pressas, a noite cai mas tens as coordenadas correctas, over. Okay Houston, vamos ver se chego inteiro.


A subida tinha sido horas antes. Uma subida neblínica que muito agradou ao ciclista extraordinário. Não por muitos motivos mas por apenas um, ou, vá lá, por dois motivos principais que se fundem num único: o prazer e a beleza.

Por exemplo as paisagens Rembrandticas; clareiras de luz na sombra densa da floresta.




Por exemplo as roads to nowhere serra acima até que chegamos à curva do caminho e, surpreendentemente,  se descobre um caminho a seguir à curva.





Por exemplo, as paisagens fractais. Belas e enigmáticas. Com ou sem ciclistas extraordinários.





Por exemplo, os bosques em altitude que, durante 2 minutos, se enchem de luz enquanto o Sol espreita por entre as nuvens.






Por exemplo, a paisagens fractais outra vez. Nunca cansam. Com ou sem ciclista extraordinário




























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