Maio 2021
Pedalava pelo caminho um pouco abaixo da cumeada. Cem metros acima, a cumeada era varrida pelo vento. Por ali, aos cerca dos 800m, ia mais abrigado, havia árvores, vegetação (tinha-me cruzado com uma javali e dois filhotes não há muito), ribeiros ... e o olhar alcançava lonjuras. Já não ia para aqueles lados, para o lado Oeste da serra, há algum tempo. Se calhar porque é o lado onde a serra se acaba e o vale começa. Para o outro lado, para Este, é o oposto, a cordilheira eleva-se pelo Açor fora até aos 1400m de altitude e daí até ao maciço central da Estrela aos 2000 m. E isto da bike de montanha, a subidas são um atractor. É o olhar para cima que impele. Se distraído, vou seguramente para cima.
Durante a subida, em algumas partes, mas acima dos 700m, os montes estavam cobertos de uma flor surpreendente que se elevava sobre a urze rasteira. Curioso aquilo. Ao longe pareciam flocos de neve; ao perto isto:
E. pelo lado de cima, assim:
Ali, um local ermo, sobranceiro ao vale imenso que do lado direito se estende até à serra do Caramulo e do lado esquerdo até ao mar. Em dias limpos vê-se claramente visto o mar e a Figueira-da-foz.
Coração na serra, olhos no mar
A tábua gravada a cinzel (ou à navalha), mostrando um mapa com locais icónicos da região que dali se avista: o mosteiro de Semide (berço da chanfana!), o Sr. da Serra, a Torre da Universidade de Coimbra, o vale do Mondego e a serra da Boa Viagem ... Em cima, à esquerda, a identificação da instalação: Vila Nova, o miradouro do concelho. Vila Nova é uma povoação ali perto. E ali, naquele local belo, remoto, de difícil acesso Vila Nova decidiu instalar o mapa da região gravado numa tábua de madeira e deixar bem vincado na memória de quem, por mero acaso, por ali caminhar, correr ou andar de bike, como se a memória fosse também esculpida à navalha que ali, naquele sítio: coração na serra, olhos no mar.
Que bela ideia.
Olhos no mar:
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