1 Novembro 2021
Tinha-a visto pelo canto do olho. Fiz a curva da estrada e pressenti um vulto que se esgueirava pela encosta do lado esquerdo. Parei, perscrutei, nada, cerrei os olhos, nada, mas a sensação de ela estar ali a fitar-me mordia-me a curiosidade. Elas são muito curiosas, não fugira, não, com certeza que estaria por ali a observar-me, é assim que aprendem, tal como os cães, olham, tentam perceber, associam movimentos a acções, a comportamentos, ... e, às tantas, foi olhos nos olhos. Os meus olhos nos dela, contacto imediato do terceiro grau.
Acontece-me com frequência; vou a pedalar por um caminho na serra e tenho a sensação de que algum animal me observa. Muitas vezes sinto-lhes o cheiro. Mas, em regra, não os vejo. Ou saltam à minha frente no caminho, como frequentemente acontece, ou o encontro imediato do terceiro grau não se dá. Mas já houve excepções. Com outras raposas e com veados. Um bosque, com manchas de luz e sombra, árvores próximas, bosque denso e às, tantas uma forma que não condiz com a geometria vertical do bosque composta pelas linhas rectas verticais das árvores. É o segredo para os distinguir dissimulados num bosque.
Estivemos ali uns minutos, olhos nos olhos. Então, devagar, devagarinho, levei a mão ao bolso traseiro da jersey, sempre fitando-a. Bastaria desviar o olhar e, caso ela se movesse, seria difícil focá-la de novo. Tirei o telemóvel, e ela observava imóvel, apontei-o na sua direcção, clique, clique, clique e ela imóvel. Às tantas um pequeno menear de cabeça. Apenas isso. Eu também, imóvel.
Onde está a raposa?
Onde?
Ali
Onde?
Ali
Levava pão com marmelada no bolso traseiro. Levei de novo a mão ao bolso e tirei um pedaço do pão. Chamei-a, liguei o vídeo e atirei o pão.
Let´s look at the trailer
A raposa não veio ao pão. Aproximou-se. Nitidamente ela percebeu que eu lhe oferecia alguma coisa. Eu estava mais perto do pão que ela. Talvez por isso ela não se aproximasse mais. Portanto, fui-me embora. Talvez assim ela encontrasse o pão. E, por isso, a história da raposa que não veio ao pão acaba aqui. No fundo é a história da raposa que, muito provavelmente foi ao pão mas após eu me ter ido embora. E esta é uma dúvida com a qual tenho que viver.
Fica a memória do (bonito) gesto.
ResponderEliminarQuem sabe ela prefere um ratito...:)
~CC~
Olá CCF,
Eliminarpois é ;)
Na lista de preferências da raposa o pão com marmelada deve vir depois do ratito, do coelhito e até do pão com chouriço :)
João