Janeiro de 2022
No planalto da serra, aos mil metros, às horas a que o ciclista extraordinário lá chegou, depois de duas horas bem pedaladas serra acima, a noite estava por um fio. Os azuis das serranias, the warmest color of course, sob um tecto baixo de nuvens douradas, compunham a vista extraordinária. A isto acrescia um friozinho cortante. Embora tivesse subido pela EN236, o ciclista extraordinário não tinha encontrado carros e, no seu entendimento, estava só em todo o planalto da serra.
Mas, desta vez, todavia, o ciclista extraordinário ia prevenido com uma bela de uma lanterna frontal e um pisca-pisca traseiro (traseiro da bicicleta, obviamente). A noite não iria, desta vez, apanhar o ciclista a dezenas de Km de casa no cimo da serra. Já em outras ocasiões que por aí estão relatadas, o ciclista desceu a serra às escuras. O maior risco é um encontro imediato do terceiro grau com um javali ou um veado. Aliás, o ciclista extraordinário lembra-se bem da vez em que, noite cerrada, entrou pelo meio da manada que estava deitada na estrada e, sem saber como, na confusão de corpos, hastes e sombras que se espantaram, fugindo a sete pés, passou incólume, sem sequer ter tido o discernimento para travar, tal o susto.
Enquanto o ciclista extraordinário estava por ali, contemplando os azuis das lonjuras, pôs-se um nevoeiro denso. A noite cerrou. E foi então que, num passe de magia, o ciclista extraordinário instalou uma lanterna no guiador na bike, pressionou o botão verde e ... 700 lumens !!! Uma lanterna do tamanho de meia caixa de fósforos (das antigas) com carregamento USB. Tecnologia. E 700 lumens.
Seguiu-se a primeira fotografia nocturna com o novo telemóvel. Clique, uma obturação de cerca de 4 segundos e voilá, como se fora uma máquina analógica das antigas em que seleccionávamos o tempo de obturação. A máquina foi buscar o resto de luz que havia no céu, iluminando-o.
Clique, clique, clique ...
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