Agosto 2020
O estradão em primeiro plano. À medida que se ganha altitude o ar é mais fino e os aromas mais limpos. Por isso, a altitude conta. O estradão aos 1000 m de altitude. Na linha do horizonte o maciço central da Estrela aos 2000 m. Entre ambos fiz as viagens vertical e horizontal. Ida e volta. Dia quente mas, àquela altitude, soprado por um vento que fazia estremecer o corpo suado.
Pelo meio. Pelo meio vertical e horizontal, o Adamastor do Açor: o cone quase perfeito do Picoto da Cebola (ao centro, num plano à frente da Estrela). Do picoto da Cebola vêem-se os falcões e os açores. Estas magníficas aves planam, deixam-se ir no vento para, de súbito, tomarem um rumo que definem independentemente do vento. Um coelho, um rato e lá vão eles em mergulho. Nas pedaladas que me levam ao picoto os falcões e os açores planam a uma altitude em que os vejo pelo dorso ... vejo-os por cima, olhando para baixo (e não para cima, se necessário é dizê-lo). Plano no Açor sobre os açores.
A linha do horizonte de há horas atrás, no estradão das eólicas aos 1000 m, deu lugar à linha do horizonte vista do picoto da Cebola aos 1400m de altitude. A Estrela imponente logo ali, um horizonte próximo.
Às tantas, atravessa-se-me na mente a obrigação de uns carapaus que terei que grelhar lá mais para a noite. Hei-de fazê-los como deve ser. Grelhar carapaus é uma arte só acessível a verdadeiros "experts". Tirá-los inteiros, a pele inteira e crocante, suculentos por dentro, de um azul alourado e brilhante (isto é, não deixar secar e queimar ...) ...
Aqui, onde a roda da frente da minha bike pisa ao chão, a serra é amarela e verde. Amarelo seco e verde de uns heróicos arbustos que teimam em nascer e crescer nestas encostas devastadas pelo fogo há 2 anos. Também por ali os esqueletos de algumas árvores queimadas, negras, teimando também em manter-se de pé.
As sombras nos vales, o vento mais fresco e a luz pálida formam um padrão no meu cérebro que me diz: está a anoitecer.
O vale do rio Ceira e os penedos de Fajão no horizonte mais próximo. Uma visão extraordinária.
Depois vem a noite a um friozinho que se instala na "espinha" e nos faz apressar. A contemplação não tem horas, a chegada a casa tem. Não ser apanhado pela noite nas serranias, sem luz, é uma ideia que começa a martelar na cabeça. Mas o prazer de parar e ficar por ali olhar o pôr do Sol faz-me faz-me parar e ficar por ali a olhar o pôr do Sol.
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