A memória das pedaladas.
Foi esta a principal razão.
O blog é, assim, uma espécie de
dispositivo virtual de reforço sináptico.
segunda-feira, 5 de outubro de 2020
Lado B do post anterior
ou seja, por outras palavras, rain drops keep falling on my head.
Miss Warwick? Please, the stage is yours:
E agora ficava aqui a ouvir a belíssima Dionne mas fica para outra vez. A voz luminosa da Miss Dionne Warwick não assenta bem num céu branco e neblínico de onde caem os pingos da chuva ou sequer da floresta húmida e outonal. Não muito mas já um pouco Outonal. Isto é, os verdes ainda predominantes mas os laranjas, amarelos e castanhos a ganhar terreno.
Portanto, a chuva keep falling, transformando a serra, acentuando aromas, arrefecendo o ar, trazendo à terra o líquido mais estranho neste planeta: a água.
Depois da última fotografia do post anterior, ainda com o sabor da laranja nos lábios, subi à Cerdeira. Tinha lá estado uma semana antes e ouvira claramente ouvido um macho que na ribeira, ao fundo da aldeia, ali bramava desvairadamente. Debalde, era já muito tarde. A brama parece ter horas. Um pouco depois do por-do-Sol e acabe-se-lhes o pio. Calam-se. É a luz a controlar os relógios moleculares dos veados.
Um pouco antes tinha subido mais um pouco. Aos cerca dos 800m. Pela milésima vez apetecera-me percorrer a floresta do Terreiro das Bruxas.
Um pouco mais - há sempre a vontade de ir um pouco mais além - e pedalei ainda até aos 1000 m. A esta altitude a neblina começava a instalar-se para a noite. Fui com atenção, perscrutando por entre as árvores na expectativa de um encontro imediato do terceiro grau com os nossos primos de 4 patas e belos par de cornos. Um movimento, um ruído de galhos quebrados , um vulto rápido que passa ... e eles passam rápidos e fugidios como já tantas vezes aconteceu.
Lá ao fundo, junto aos cedros. Sim? Não, é um tronco caído.
Houston, do you read me Houston? Preparar para a descida. Por aqui está um friozinho que requer o uso do equipamento de reserva. Corta-vento, touca, lenço ao pescoço ... e um cubo de marmelada para pôr a insulina a correr nas veias.
E daqui segui para a Cerdeira, lá em baixo.
E, enquanto estava em comunicação com Houston, percebi que um velho amigo se aproximara. Levantei os olhos devagar. Lá estava, sobre uma pedra coberta de caruma, olhando-me.
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