Março 2018
Eu também já fui assim, um destravado. "És um cabeça no ar"; quantas vezes ouvi isto!
Metia-me nelas e só a meio tentava ver como sair ileso. Nada de estranho, até aos 18-20 há mecanismos de feedback no cérebro que se estão a afinar. Às vezes, na rua, ouço pais a ralhar com os filhos: mas tu não vês que isso é perigoso, tu não está a ver que se fizeres isto pode acontecer aquilo?
Tenho vontade de lhes dizer (aos pais): não, ele não está a ver. O cérebro dele ainda não afinou o circuito que liga esse perigo a uma acção. Lembro-me que, um dia, na Nazaré, uma das primeiras vezes que fui a uma praia, teria cerca de 13 anos, enquanto os meu pais andavam por ali na praia a ver as sardinhas ao Sol a secar, fui para o outro lado da falésia, para os lados do sítio, e comecei a trepar a direito, falésia acima, até ficar pendurado quase lá em cima, nem para baixo nem para cima, e ali estava, não caí (seria morte certa) por um triz porque à tantas num movimento de desespero dei um salto, agarrei-me a umas canas e terminei a subida, uma subida que, naquelas condições, provavelmente nunca ninguém fez. Não me passou pela cabeça que se começasse a subir sem qualquer apoio, de sandálias e calções, às tantas poderia ficar na situação em que fiquei. Depois dos 13 anos a coisa piorou um bocado. Hoje, obviamente, sou um gajo responsável, pai de família, um profissional respeitado, ciclista nas horas que deveria estar a fazer outras cosias, que gosta de se meter serra acima no meio de invernias que ninguém, nem jipes xpto bem equipados, ousam desafiar, mas voltando ao assunto, sim senhor, direitinho, o respeitinho é muito lindo, e os outros é que são uns out of the box, que eu cá não e, sem mudar de assunto, vamos é ao que interessa.
Tenho vontade de lhes dizer (aos pais): não, ele não está a ver. O cérebro dele ainda não afinou o circuito que liga esse perigo a uma acção. Lembro-me que, um dia, na Nazaré, uma das primeiras vezes que fui a uma praia, teria cerca de 13 anos, enquanto os meu pais andavam por ali na praia a ver as sardinhas ao Sol a secar, fui para o outro lado da falésia, para os lados do sítio, e comecei a trepar a direito, falésia acima, até ficar pendurado quase lá em cima, nem para baixo nem para cima, e ali estava, não caí (seria morte certa) por um triz porque à tantas num movimento de desespero dei um salto, agarrei-me a umas canas e terminei a subida, uma subida que, naquelas condições, provavelmente nunca ninguém fez. Não me passou pela cabeça que se começasse a subir sem qualquer apoio, de sandálias e calções, às tantas poderia ficar na situação em que fiquei. Depois dos 13 anos a coisa piorou um bocado. Hoje, obviamente, sou um gajo responsável, pai de família, um profissional respeitado, ciclista nas horas que deveria estar a fazer outras cosias, que gosta de se meter serra acima no meio de invernias que ninguém, nem jipes xpto bem equipados, ousam desafiar, mas voltando ao assunto, sim senhor, direitinho, o respeitinho é muito lindo, e os outros é que são uns out of the box, que eu cá não e, sem mudar de assunto, vamos é ao que interessa.
Tinha decidido subir a serra pelo lado Este. No início, junto ao Bike Park da Lousã, dei com um estaminé impressionante, tudo com ar profissional, barracas com as marcas de bike, bandeiras, boxes, ciclistas com bike de suspensão total, carrinhas de equipas de ciclismo ... Comecei a pedalar serra acima e gente na estrada e metida nos pinhais, apitos ... aqui há gato, pensei. O gato era a taça de Portugal de Downhill. Um percurso sinuoso e a pique desde o Terreiro das Bruxas até Cacilhas. Cerca de 4 km que os craques (portugueses e estrangeiros) fizeram em cerca de 4-5 min. Como é possível? Voando. Baixinho.
de vez em quando lá punham as rodas no chão e pedalavam
Estes ali, a pé, no caminho à esquerda, mal conseguem descer tal a inclinação (todavia menor que no trais de downhill)
à vezes só uma roda
Mas grande parte é feita a voar serra abaixo
Andei por ali, de telemóvel na mão, agachado a disparar fotografias no meio dos profissionais com teleobjectivas e que olhavam para mim com ar de quem pensa "aquele gajo é capaz de estar a apanhar um belo ângulo mas a posição, ali agachado, é humilhante e eu sou um profissional conhecido, publico fotos nas revistas da especialidade e, além disso, aqui o pessoal à volta conhece-me, caraças, se calhar seria melhor agachar-me mas, no fundo, não há foto que valha a humilhação, deixo isto para este gajo que anda aqui todo pipi equipado com Castelli a disparar o telemóvel para o ar".
Continuei, serra acima, até ao local da partida. Um local belo no meio da floresta e já um tanto ou quanto devassado pela "pista".
Passados da cabeça estes putos.
Não sei como é regulada a abertura de trilhos e caminhos na floresta mas parece-me que estão a matar a galinha dos ovos de ouro. Hoje, já não é fácil encontrar uma área na serra equivalente a dois ou três campos de futebol que não seja atravessada por trilhos (bikes, motas e motoquatro). É tudo à balda. No último ano romperam-se trilhos por todo o lado (até já lá em cima no planalto). Nota-se nos animais. Em zonas onde frequentemente encontrava veados o vento traz agora apenas os roncos das motas e os gritos de de bikers que se lançam pelos caminhos abaixo. Tenho-os visto apenas em locais remotos, em encostas inclinadas onde só há pequenos caminhos antigos e de difícil acesso.
Parece-me que se não há uma gestão da abertura de caminhos e trilhos em zonas de rede Natura, parques e outras zonas protegidas, acontecerá o equivalente ao fenómeno da "algarvização". Já uma vez disse isto a propósito dos mexilhões na costa alentejana. Há vinte anos andava-se por ali, pelas rocha pejadas de mexilhões e ... de apanhadores. Um dia disse-lhes (para os lados do Brejão): vocês apanham isto a eito, rapam as rochas, levam tudo à frente, destroem os ecossistemas, qualquer dia não há mexilhões. Olha-me este, toda a vida houve aqui mexilhões, já o meu pai etc etc, respondiam em tom de risota. Desapareceram os mexilhões e depois de devassados os ecossistemas está, hoje, a tentar gerir-se o que resta.
But, what are you here talking about? Estamos talking about coisas destas na floresta de coníferas aos 700-800m
e coisas destas nos soutos aos 800 m de altitude (muitas vezes, os ferros e as fitas ficam por ali)
O espaço para o turismo de natureza (em franco desenvolvimento) começa a ficar comprometido pela falta de gestão dos trilhos.
Parece-me que se não há uma gestão da abertura de caminhos e trilhos em zonas de rede Natura, parques e outras zonas protegidas, acontecerá o equivalente ao fenómeno da "algarvização". Já uma vez disse isto a propósito dos mexilhões na costa alentejana. Há vinte anos andava-se por ali, pelas rocha pejadas de mexilhões e ... de apanhadores. Um dia disse-lhes (para os lados do Brejão): vocês apanham isto a eito, rapam as rochas, levam tudo à frente, destroem os ecossistemas, qualquer dia não há mexilhões. Olha-me este, toda a vida houve aqui mexilhões, já o meu pai etc etc, respondiam em tom de risota. Desapareceram os mexilhões e depois de devassados os ecossistemas está, hoje, a tentar gerir-se o que resta.
But, what are you here talking about? Estamos talking about coisas destas na floresta de coníferas aos 700-800m
e coisas destas nos soutos aos 800 m de altitude (muitas vezes, os ferros e as fitas ficam por ali)
O espaço para o turismo de natureza (em franco desenvolvimento) começa a ficar comprometido pela falta de gestão dos trilhos.
Tenho medo que me pelo de andar assim pelos ares. Gostava de ter a coragem ou loucura deles, nao sei:)
ResponderEliminarGJ estas coisas só se fazem até aos 18 ou depois dos 70 !
ResponderEliminarOlá João,
ResponderEliminarComo é possível eu ainda não ter lido esta história da Nazaré?
Então era assim?
Muito bem :)))
🐳
Maria