A memória das pedaladas. Foi esta a principal razão. O blog é, assim, uma espécie de dispositivo virtual de reforço sináptico.
quinta-feira, 12 de abril de 2018
Isto tem dono
- Bom dia
- .....ddiiiaaa...
- Então isto tem dono?
- Tem sim senhora. É meu e o primeiro filho-da-puta que puser aqui os pés vai arrepender-se. Vêm-me às castanhas e às couves.
- Mas posso respirar o oxigénio que a árvore produz?
- Isso pode.
- Quer dizer, a parte da biosfera a que se refere a placa é só o solo, as plantas e o volume da atmosfera ocupado pelas árvores e os arbustos.
- Exactamente.
- Isso é de uma grande generosidade porque a árvore produz oxigénio que é libertado para atmosfera e que, depois, é usado pelo organismos e células aeróbias que habitam no terreno e fora dele. Eu, por exemplo, estou a respirar oxigénio produzido por uma árvore que é sua e portanto estou a respirar oxigénio que também é seu. Obrigado.
- De nada, pode respirar o meu oxigénio à vontade e até lhe digo, é oxigénio biológico porque não ponho aqui nada nas árvores.
- E a água que por aqui corre?
- A água também é minha.
- Mas espere. Qual é a água que é sua?
- Hã?
- Quero dizer, esta água que aqui corre neste momento vem dali de cima, da serra, e vai por aí fora até ao ribeiro, lá em baixo. Portanto ela é apenas transitoriamente sua. Apenas enquanto as moléculas de água passam aqui neste seu terreno lhe pertencem.
- Exactamente. Pode dizer isso, enquanto está aqui no meu terreno é minha.
- Já agora, as folhas das árvores que, levadas pelo vento, caem fora do terreno ...
- Ah, isso é lixo, pode ficar com elas.
- Nem queria ir por aí mas até que profundidade o solo lhe pertence? Por exemplo se fizer um túnel que passe por baixo do seu terreno, posso retirar raízes, minhocas e terra ou também são suas?
- Isso é tudo meu.
- Até ao centro líquido da Terra? Mas quem tem um terreno nos antípodas da Terra (na Nova Zelândia) pode argumentar o mesmo.
- Pois pode, mas isto deste lado é meu se ele quiser ir até ao centro da Terra é lá com ele, eu não vou.
- Caraças, picou-me um mosquito, desculpe. Este mosquito deve ter nascido aqui no seu terreno. Também é seu?
- Eu com mosquitos não quero nada.
- Agora baralhou-me. Já não percebo bem o que é seu. Os mosquitos também são seus. Não há dúvidas sobre isso. Estava no seu terreno, é seu. Tome lá o mosquito. Desculpe está morto mas é o que resta do seu mosquito.
- Já lhe disse, isto tem dono. É meu e já era do meu pai e não quero o mosquito.
- Desculpe mas o mosquito é seu. Se as árvores são suas, a terra, o ar, a água, as minhocas, as bactérias, etc os insectos também são seus. Porque é que está a excluir toda uma classe de animais, os insectos? E olhe que são a classe de animais mais numerosos à superfície da terra. Veja lá o que está a perder. Já agora no registo de propriedade está incluído o filo Chordata, em particular a classe dos anfíbios, é que estou ali a ver um sapo e uma salamandra?
- Olhe para lhe dizer a verdade, ainda há dias disse para a minha mulher que tínhamos que ver se os anfíbios também estão no registo mas sabe o que mais me preocupa? É o Filo Mollusca, sobretudo os gastrópodes. É que os caracóis comem-me as couves. Não deveria ter os gastrópodes no registo da propriedade.
- Ah pois é mas assim não vale. Não pode querer ser dono de um pedaço da biosfera e o filo Mollusca ficar de fora. Não estou a ver nenhuma conservatória de registo predial que lhe aceite isso.
Então bom dia até á próxima. Vou andando que ainda quero pedalar até ao cimo da serra.
- ... diiiiaaaa... (mas quem era este filho da puta?)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
ahahahah mai nada!
ResponderEliminarEsta coisa de se ser dono de um pedaço do planeta onde todos vivemos é uma ideia estranha. Acho que um dia, no futuro, esta ideia será considerada ridícula.
ResponderEliminar