Ouvia isto ("vem lá a chuva"), dito pela minha avó que, com os olhos semicerrados, fixando o olhar ao longe sobre as encostas da Estrela, percebia pela humidade do ar, pelas névoas que se amontoavam sobre os montes, pela luz que empalidecia, que a chuva chegaria em breve e que, portanto, era preciso guardar isto e aquilo, antes que "ela" chegasse. E apressávamo-nos para chegar a casa antes "d'ela".
Foi há muitos anos.
Hoje, ali aos 960 m de altitude, sob o imenso vale da Beira, desde o mar a Oeste (à esquerda) até ao maciço central da Estrela a Este (à direita), cerca de dois terços de Portugal na transversal, assisti à chegada da chuva. A neblina branca, proveniente do oceano a Oeste, lentamente inundava todo o vale rente à terra. Depois foi subindo. Via-a claramente ali em cima. O picoto da Cebola no Açor ainda nítido, acima da nuvem branca. O planalto da Estrela já invisível. A paisagem cada vez mais indistinta, a terra fundindo-se com o céu, o ar cada vez mais húmido ... mal começasse a descer enfrentaria a nuvem; sabia-o bem. Uma beleza imensa.
E mais cedo que tarde foi o que aconteceu. Yes !
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